Três pontos para entender a proibição da Al Jazeera em Israel
No fim de semana, o governo de Israel proibiu a transmissão da emissora catari Al Jazeera no país, um mês após o Parlamento israelense (Knesset) ter aprovado uma lei que proíbe temporariamente qualquer mídia estrangeira que “prejudique a segurança do Estado”.
O fechamento é válido por 45 dias, mas esse prazo pode ser
renovado. O governo do premiê Benjamin Netanyahu argumenta que a Al Jazeera
apoia o Hamas, contra quem os israelenses travam uma guerra na Faixa de Gaza desde
7 de outubro em resposta aos ataques do grupo terrorista no território de
Israel.
“Não haverá liberdade de expressão para as trombetas do
Hamas em Israel. A Al Jazeera será fechada imediatamente e seu equipamento será
confiscado”, disse o ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, em declaração
conjunta com Netanyahu.
Confira abaixo três pontos para entender o assunto:
As medidas tomadas por Israel
A ordem do Ministério das Comunicações determinou a
apreensão de dispositivos “usados para veiculação do conteúdo do canal”,
incluindo câmeras, equipamentos de edição, laptops e celulares de profissionais
da emissora catari.
A agência France-Presse relatou que o escritório da Al
Jazeera em Jerusalém foi fechado e imagens publicadas em redes sociais
mostraram autoridades israelenses removendo equipamentos de um hotel em
Jerusalém Oriental usado pela emissora.
A própria Al Jazeera informou que seu site também está
proibido em Israel.
As acusações
O governo Netanyahu alega que a Al Jazeera é a “porta-voz do
Hamas” em Israel. Além de publicar imagens de civis atingidos pela guerra em
Gaza, a emissora também veicula com frequência vídeos com declarações de
lideranças do Hamas e de outros grupos terroristas, destacou a revista
americana Time.
Além disso, as Forças de Defesa de Israel (FDI) alegaram que
funcionários da emissora são membros do Hamas, segundo reportagens do jornal
Times of Israel.
O jornalista Ismail Abu Omar, ferido em Gaza em fevereiro,
foi acusado pelas FDI de ser vice-comandante de uma companhia no Batalhão Leste
Khan Younis do Hamas.
Segundo as forças de Israel, Abu Omar entrou em Israel
durante os ataques de 7 de outubro e fez imagens internas do kibutz Nir O, onde
dezenas de moradores foram mortos ou sequestrados.
As FDI também informaram que documentos recuperados de um
laptop revelaram que outro repórter da Al Jazeera, Mohamed Washah, seria comandante
de uma unidade de mísseis antitanque do Hamas e também colaboraria com a
unidade aérea do grupo terrorista.
Dois jornalistas da Al Jazeera que foram mortos num ataque
aéreo israelense em Rafah em janeiro também foram acusados de serem terroristas:
Hamza Wael Dahdouh e Mustafa Thuria, ambos “ativamente envolvidos em ataques
contra as FDI”, argumentaram as forças de Israel.
As FDI alegaram que um documento encontrado por suas tropas em Gaza provaram que Thuria seria membro da Brigada da Cidade de Gaza do Hamas, como vice-comandante de esquadrão em um dos batalhões, enquanto Dahdouh seria membro da Jihad Islâmica Palestina.
As FDI apontaram que documentos revelaram que ele teria
servido na unidade de engenharia eletrônica da Jihad Islâmica e anteriormente teria
sido vice-comandante da força de foguetes do Batalhão Zeitoun.
A Al Jazeera negou relações de seus profissionais com o
terrorismo e acusou Israel de visar deliberadamente jornalistas da emissora, o
que foi negado pelas FDI.
Com sede em Doha, a Al Jazeera é financiada em parte pelo
governo do Catar, país onde o braço político do Hamas mantém seu escritório.
Repercussão
A Associação da Imprensa Estrangeira (FPA, na sigla em
inglês) considerou que a decisão de fechar a Al Jazeera coloca Israel “num
clube duvidoso de governos autoritários”. Já o Comitê para Proteção de
Jornalistas (CPJ) ponderou que a medida “estabelece um precedente extremamente
alarmante para restringir os meios de comunicação internacionais que atuam em
Israel”.
A Associação para os Direitos Civis em Israel (Acri, na sigla em inglês) apresentou um pedido à Suprema Corte para que a proibição seja suspensa e argumentou que ela serve a “uma agenda com motivação política, destinada a silenciar vozes críticas”.