Ex-embaixador dos EUA que espionou para Cuba é condenado
Víctor Manuel Rocha, ex-embaixador dos Estados Unidos na
Argentina e Bolívia, foi condenado nesta sexta-feira (12) a 15 anos de prisão em
Miami, por trabalhar como espião a serviço da inteligência cubana durante
quatro décadas.
Rocha, de 73 anos e que morava na cidade da Flórida, havia sido preso em dezembro. Segundo informações do jornal Miami Herald, a juíza do Tribunal Distrital de Miami, Beth Bloom, chamou o ex-embaixador de “um inimigo do governo dos Estados Unidos”.
“As suas ações foram um ataque direto à nossa democracia e à
segurança dos nossos cidadãos”, disse a magistrada. “Você virou as costas para
este país, um país que lhe deu tudo.”
Ainda segundo o jornal de Miami, Rocha, nascido na Colômbia e que se naturalizou americano em 1978, pediu desculpas à juíza, aos Estados Unidos e à sua família antes da sentença ser anunciada.
“Quando estudante, fui fortemente influenciado pela política
radical da época”, afirmou. “Hoje, não vejo mais o mundo através dos olhos
radicais da minha juventude.”
Entre as histórias nebulosas envolvendo Rocha, uma que se destacou foi uma declaração sua em junho de 2002, quatro dias antes da eleição presidencial na Bolívia, na qual fez referência ao então candidato Evo Morales sem citar seu nome.
“O eleitorado boliviano deve considerar as consequências de
eleger líderes de alguma forma ligados ao tráfico de drogas e ao terrorismo”,
afirmou Rocha, sugerindo que a eleição de Morales poderia levar ao corte da
ajuda americana à Bolívia.
A declaração gerou indignação entre a população boliviana e,
segundo analistas, foi decisiva para que Morales ganhasse votos de última hora
e quase vencesse a eleição daquele ano.
A reviravolta gerada a partir da declaração de Rocha projetou
Morales politicamente e ele foi o vencedor da eleição presidencial de dezembro
de 2005, com quase 54% dos votos.
O líder cocaleiro cunhou uma frase imortal: “O meu melhor chefe de campanha se chama Manuel Rocha”. Depois da prisão do ex-embaixador, cresceu a suspeita de que a declaração de 2002 foi uma autossabotagem proposital, considerando-se as fortes relações de Morales com a ditadura de Havana.