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O paradoxo do uso da IA no trabalho: contar ou não contar?

Por Andréa Migliori.

Não é novidade para ninguém que a inteligência artificial tem sido cada vez mais usada no ambiente de trabalho. Pelo menos isso é o que eu acreditava; mas, pelo jeito, há líderes que não veem essa realidade, uma vez que profissionais estão com receio de contar que a utilizam.

É o que diz o Annual Work Trend Index, um estudo realizado pela Microsoft e pelo Linkedin, que aponta que 75% das pessoas usam IA no dia a dia — só que mais da metade prefere não admitir que está fazendo isso nas tarefas mais importantes.

A razão é que as pessoas temem que, se as empresas souberem, vão considerá-las descartáveis. É um medo recorrente quando se trata de IA, mas é bastante curioso perceber que ele se mantém mesmo quando a ferramenta já está sendo aplicada.

Ou seja, o medo vem não apenas de uma questão de aceitação da tecnologia, mas das mudanças que ela propõe. E isso surge de dois pontos centrais: o medo do desconhecido, e a pressuposição de que está “tudo perdido”.

A inteligência artificial auxilia trabalhos operacionais.

O primeiro ponto é o mais antigo da humanidade. Sempre tememos o que não conhecemos. Portanto, mesmo ao aceitar e usar a IA, ainda existe um receio importante sobre o que a liderança vai pensar, e mais ainda, o que isso significa a longo prazo.

O segundo ponto vem da ideia de que, se descobrirem o uso da inteligência artificial, a demissão é certa.

Se acontecer de 100% das suas tarefas serem realizadas na ferramenta, realmente é preciso reavaliar o seu plano daqui para frente. Contudo, esse não é o caso tantas vezes quanto pode parecer, o que me leva a perceber que muitas pessoas estão tão preocupadas que não percebem as possibilidades dentro da própria carreira.

Explicando melhor: a IA pode tomar conta de algumas demandas e, ainda assim, profissionais podem se manter relevantes em outras áreas, em especial as mais estratégicas ou criativas. Isso não se trata apenas de criação, mas sim de ideias.

É um conceito difícil de ser compreendido no momento em que vivemos, quando a maior parte do trabalho consiste de atividades operacionais, mas a verdade é que pensar também é trabalho, e isso está além das capacidades de qualquer IA — pelo menos por enquanto.

Para atravessar o futuro que a tecnologia está criando, é fundamental avaliar as oportunidades que seu trabalho traz nesses outros contextos que vão além das tarefas repetitivas. Pode ser que isso signifique, em alguns casos, mudar de profissão inteiramente? Pode. Mas existem muitas alternativas dentro de cada área e talvez você ainda não tenha considerado cada uma com atenção.

Existe ainda outra questão relevante neste debate que é a própria relação com a inteligência artificial e como ela é benéfica para o mercado. O mesmo estudo da Microsoft e Linkedin demonstrou que 66% das lideranças entrevistadas afirmaram que não contratariam alguém sem habilidades em IA.

Saber operar e tirar o maior proveito possível das ferramentas que estão mudando o mundo é, por si só, uma competência importantíssima. Se lembrarmos das mudanças causadas pela primeira revolução industrial, temos um ótimo exemplo disso: as máquinas substituíram as pessoas em determinadas operações, mas se tornou necessário contratar gente para operar as máquinas.

Embora seja compreensível que as pessoas tenham receio de falar abertamente sobre o uso de IA, como autodefesa, esse medo não é necessariamente inevitável. Portanto, avalie seu trabalho, procure oportunidades de melhorar naquilo em que a inteligência artificial não consegue tocar, e siga descobrindo como usá-la da melhor forma. Afinal, vivemos em uma época em que, mais importante do que saber, é aprender.

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Andréa Migliori, CEO da Workhub, uma HRTech de soluções para portais corporativos, pioneira no segmento a incorporar inteligência artificial aos seus serviços.

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