A resistência à presença de Tom Cruise no encerram…
No rol de celebridades que sorveram tudo o que podiam da temporada em Paris, Tom Cruise se sobressaiu pela onipresença nos melhores assentos da cidade. Talvez só fique atrás mesmo do imbatível Snoop Dogg, o rapper que desafiou tempo e espaço, multiplicando-se. Todo simpatia, Cruise exibiu seu sorriso alvo sempre que a câmera o flagrava aqui e ali, tudo no mais santo espírito olímpico. Mas eis que, nos últimos dias, o ator se viu sugado por uma polêmica daquelas, que se manteve acesa com a mesma teimosia da tocha até ele aterrissar no Stade de France, palco da cerimônia de encerramento da Olimpíada, depois de um salto à la Missão Impossível do teto do estádio.
O enrosco envolvendo o astro, que só para não perder o costume andou de moto no estádio com a bandeira olímpica a bordo, neste domingo, 11, gira em torno da cientologia, que emplacou primeiro nos Estados Unidos, arrebanhando seguidores à base de um muito criticado receituário: segundo a cartilha, os humanos seriam pobres seres imortais que esqueceram de sua verdadeira natureza. É controvérsia pura, na veia, e na França, como por toda a Europa, mais ainda: a cientologia nessas bandas do planeta é vista como aberração, uma seita a ser combatida e silenciada.
E é justamente nesse pedaço do roteiro que entra Tom Cruise, o flâneur americano. Sempre no alvo por abraçar a corrente e dar visibilidade à distorcida filosofia de sua tribo, ele não escapou da ira de ativistas que vivem de defender gente que pôs os pés na seita, penou por lá e foi procurar ajuda legal para enquadrar o grupo. “É um insulto Tom Cruise ter um papel na Olimpíada”, dispara Catherine Katz, uma ex-juíza dedicada a proteger quem se sentiu lesado, inclusive financeiramente.
PILHA ERRADA
Ela e outros contam que a aparição de Cruise nos Jogos deu gás a um pessoal disposto a espalhar a palavra da igreja à qual está ligado, fundada nos anos 1950 pelo escritor americano L. Ron Hubbard e bem estabelecida em Hollywood. À frente de uma associação que reúne vítimas da seita, Charlie Delporte relata que seus integrantes vinham se plantando no entorno dos estádios, meio à paisana, distribuindo panfletos antidrogas que seriam só fachada para recrutar fiéis. “Eles conseguem passar essa perigosa mensagem para muitos jovens”, alerta.
Em solo francês, vários membros da cientologia já foram condenados pelos estragos que teriam produzido no povo desavisado, que acaba se afastando da família e dos amigos e se endividando sob o estímulo de uma pesada cultura pró-doações. O próprio Hubbard (1911-1986), o criador, caiu nas garras da lei francesa, sendo condenado por fraude, nos anos 1970.
No Stade de France, bien sûr, era tudo festa e alta velocidade. Mas bem que Cruise, que provou de tudo um pouco das delícias francesas, preferia voltar para casa sem esse dissabor.