Esporte

Filha de Torben Grael quebra barreira do machismo…

O Brasil participou pela primeira vez do campeonato de vela Sail GP, em Dubai, nos Emirados Árabes, no último fim de semana, e contou com a estreia de um mulher no comando do time. Martine Grael, 33 anos, liderou a conquista do sexto lugar, resultado surpreendente por ser o batismo do país no circuito. Bicampeã olímpica, Martine é filha do também velejador e campeão olímpico Torben Grael, 64, mas faz questão de frisar que do sobrenome leva somente a paixão pelo esporte. Em conversa com a coluna GENTE, a atleta explica a sensação de ser a primeira mulher a liderar uma equipe e opina sobre o machismo no esporte.

Qual é a sensação de ser a primeira mulher a liderar uma equipe? É de orgulho. Sei que é uma responsabilidade essa posição de ser a primeira em algo, e que ela carrega o peso da representatividade, mas esse é um papel que assumo com a tranquilidade de quem sabe o caminho que percorreu para chegar até aqui, tanto no SailGP quanto no esporte de forma geral. Este posto foi conquistado por conta da minha trajetória vitoriosa. Sou bicampeã olímpica, uma atleta correta, disciplinada e focada. Minha liderança vem daí, por isso conquistei o respeito de todo o time. Ser atleta é buscar um aprimoramento constante, tentar todo dia ser melhor hoje do que foi ontem. É isso o que faço e farei sempre para entregar o meu máximo e o máximo da nossa equipe.

O sobrenome ajudou na carreira? Minha carreira é fruto de um trabalho meu de todo dia, que executo há quase 30 anos, com muito treino, suor e comprometimento. O que acredito ter herdado da minha família foi a paixão pelo mar e pelo esporte. De resto, o fato de ter me tornado uma atleta de excelência é resultado de empenho diário que ninguém pode fazer por mim. O apoio — seja da família, dos amigos, dos treinadores ou de uma equipe — é um incentivo, claro, mas sozinho não garante desempenho. O que constrói carreira de sucesso é o desempenho, e o que garante isso é treino e aprimoramento constante. Os resultados positivos são só a ponta do iceberg, que tem base sólida e gigantesca de trabalho duro.

Por que demorou tanto tempo para uma mulher chegar à liderança? O SailGP é um campeonato novo, estamos começando sua quinta temporada, que nasceu em 2019, já com a preocupação de promover a equidade de gênero e proporcionar aos melhores atletas oportunidades iguais. A liga incentiva equipes mistas, e tem o propósito de promover a participação feminina em posição de liderança, como é o meu caso. Existem ações concretas, como um programa de aceleração focado em criar oportunidades para atletas mulheres. A única coisa que ainda nos afasta, enquanto mulheres, de mostrar do que somos capazes, é a oportunidade. Tendo isso, tenho certeza que as atletas se mostrarão igualmente competentes na missão de conduzir essas equipes às primeiras posições do pódio.

Vê machismo no esporte? As mulheres têm assumido papel de destaque em várias áreas, seja como executivas, cientistas, artistas, empresárias. Na esfera esportiva, tivemos recentemente mudanças importantes, como o mesmo número de homens e mulheres em uma Olimpíada, e a discussão sobre a igualdade de premiações. Acredito, sim, que ainda temos pontos para avançar, mas me considero também um exemplo dessa mudança que está em andamento, uma vez que fui escolhida pelo Alan Adler [CEO do Mubadala Brazil SailGP Team], um grande atleta da vela, para comandar o barco brasileiro. Especificamente no caso do SailGP, isso prova que a liga está aberta para que as mulheres possam competir em igualdade de condições.

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