Sob Trump, EUA devem se distanciar da Ucrânia e da Europa
O retorno de Donald Trump à Casa Branca para um novo mandato presidencial abre caminho para uma mudança radical na política externa dos EUA, especialmente na relação do país com a Europa.
Essa agenda mais isolacionista do republicano não é uma novidade, visto que, em sua primeira gestão, Trump buscou um distanciamento de países do continente e da União Europeia, bloco formado por 27 nações.
Uma das – e talvez a maior – preocupação da UE com o retorno do ex-presidente ao comando da maior potência mundial é o futuro da Ucrânia, que atualmente depende fortemente do apoio dos EUA para combater os militares russos em seu território e também para manter o Estado funcionando – o serviço público da Ucrânia funciona basicamente a partir do auxílio externo.
Em diversas ocasiões, Trump deixou clara sua posição de querer encerrar guerras no mundo. Mais de uma vez durante a campanha presidencial, o republicano afirmou que acabaria com o conflito no leste europeu “em 24 horas”, indicando sua disposição em afastar seu país de assuntos externos, bem diferente do atual governo do democrata Joe Biden, que se envolveu diretamente nas batalhas fora de seu território.
Especialistas avaliam que essa postura linha-dura dos EUA sob o governo de Donald Trump forçará os países europeus envolvidos no apoio à Ucrânia a buscarem uma maior unidade dentro do continente, principalmente nas áreas de defesa e segurança. Mais de 60% do equipamento bélico da Europa é importado dos EUA, atualmente.
Uma análise do portal The Conversation considera que os países da UE podem optar por assumir dívidas conjuntas como uma forma de reunir gastos suficientes de defesa e aquisição de armas, com o auxílio de empréstimos do Banco Europeu de Investimento. Dessa forma, os países poderiam aumentar os fundos gerais disponíveis para Kiev e continuar sua luta para combater a ameaça do regime russo de Vladimir Putin no continente.
Esse afastamento das relações entre EUA a Europa ocorre em um momento delicado para as economias da Alemanha – em seu segundo ano de recessão – e França, as duas maiores do continente.
Trump também anunciou um plano dentro de sua agenda protecionista para cobrar novas tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações europeias que entram no país – e taxas de até 60% sobre todas as importações chinesas.
Atualmente, a relação comercial dos EUA com a UE é a maior do mundo, chegando a US$ 1,3 trilhão, segundo dados oficiais. A título de comparação, o comércio UE-China é de US$ 758 bilhões.
Caso esse cenário se concretize após a posse de Trump, a Europa pode optar por uma aproximação com a China, como já está fazendo o governo alemão de Olaf Scholz, que rejeitou no mês passado um plano da União Europeia de impor tarifas de até 45% sobre veículos elétricos feitos na China.
A Espanha se absteve da votação, enquanto a maioria dos países aprovou a medida. Em retaliação, Pequim impôs novos impostos sobre o conhaque europeu, o que afetou principalmente a França.